segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Hino à liberdade


Ontem postei aqui as expectativas da Duquesa. Hoje preciso lhes dizer o quanto a jornalista Luce Pereira me emocionou com sua visão de minha Camille. Entendeu onde Camille me arrebata e me me conduz inevitavelmente a esta peça, porque eu nunca me calaria sobre ela. Nunca. 
Não pensem que o fato de Luce ser minha amiga querida , a quem admiro, respeito e quero um bem danado, seja o motivo dela se expor assim a respeito de meu trabalho. É uma profissional muito justamente respeitada, porque séria, sensível e competente. Por amizade fosse e achasse diferente do que aí está, por certo que se calaria. Não se arriscaria com o que não acredita, não é de seu talento, sua índole ou natureza. Por isso mesmo me emociono tanto e partilho sim, encorajada a seguir. Com Camille Claudel e tudo quanto ela representa.
OBRIGADA, LUCE.
Ainda espero vocês. A quem interessar a leitura, segue:




Camille, Ceronha e
um hino à liberdade

(Eu não disse que ia me arrebentar?)

Fui ver Camille Claudel, no teatro da Cultura (RioMar). É gente demais neste shopping, meu Deus! - me dizia, enquanto ia caminhando para a parte de cima da livraria, que também estava movimentada, porém com outra gente, uma gente mais encantada e silenciosa. Havia um convite à minha espera, na bilheteria, mas não quis, eu preferia mesmo pagar, porque já se faz arte com tanto sacrifício neste país e, além do mais, Cacilda Becker parecia estar me soprando ao ouvido a frase que usou para dizer não àquele povo acostumado com primeira fila a custo zero: "Não me peçam para dar de graça a única coisa que tenho para vender".

Sentei em uma das mesinhas do café, ainda tinha tempo para "um quentinho" antes de abrirem as portas. Queria entrar no clima da peça, era preciso. Villa-Lobos disse que seria possîvel ouvir apenas o que quisesse, independentemente de onde se achasse, então liguei minha vitrola interna e escutei Piaf cantando La vie en rose. Ah, Paris ...

Minha poltrona era central, na terceira fila. Uma fumaça de gelo seco e as luzes do palco semi-apagadas mal permitiam divisar o cenário composto por mesinha e cadeira brancas com efeito de pátina, alguns poucos objetos; no fundo, uma plataforma elevada e coberta por grande quantidade de barro vermelho, além de uma escada de dois pés, à frente. Só.

Luzes apagam, a voz de Ceronha (em off) lê uma das cartas que Camille tentou, em vão, fazer chegar aos amigos e à família enquanto esteve (compulsoriamente) distante do mundo, num sanatório.

Um foco de luz se acende sobre a mesinha e lá está ela, a "musa de Rodin", olhando demoradamente para o vazio, como se não existisse plateia nenhuma. O texto arrasta o espectador para o cativeiro de Camille como se a intenção fosse torná-la menos abandonada e miserável na sua condição de morta-viva.

E de repente, o desvario da personagem leva Ceronha à plateia, onde olho no olho, segurando desesperadamente as mãos do escolhido, pede que entregue a carta salvadora, esmagada pela força do gesto, a um parente ou familiar. Noutro momento, delirante, distribui cerejas, a fruta mágica que acompanhou seus melhores dias em Villeneuve, sua Villeneuve.

A plateia mal respira, em alguns trechos a narrativa é muito lenta e o jeito é se mover devagar na cadeira, talvez porque, inconscientemente, se ache que o gesto pode arrancar Camille do torpor, abrindo-lhe as portas para a tão sonhada liberdade.

Choro enquanto Ceronha é o desassossego em pessoa sobre a pequena montanha de barro, onde se impregna dele até a alma. A alma de Camille era de barro. E a atriz, em dado momento, ao trazer a expressão de vazio que revelava uma Camille vencida, parece se transformar numa das esculturas que, apesar de Rodin, fizeram da artista uma das mais festejadas no mundo, pela genialidade extrema.

Ao final, a voz de Ceronha (em off) revela aos expectadores que apesar dos maus-tratos diários impostos pelo sofrimento de se saber desligada do mundo, Camille continuou viva durante 30 anos. Certamente porque ainda sobreviviam em suas mãos a memória da arte poderosa, as manhãs e o sabor das cerejas de Villeneuve.

Luce Pereira

domingo, 24 de novembro de 2013

Camiiiiiiille!!!!!!


Não posso deixar de espalhar aos bons ventos as falas de minha querida Duquesa de Belo Jardim, a jornalista Luce Pereira, aqui de Pernambuco. Mais que me envaidecer, você me enche de coragem e isto não tem preço, Duquesa. Não vejo a hora de "incorporar" mais um texto seu. Beijos cheios de minha admiração.

Teatro com alma (Por Luce Pereira)

Há alguns dias, penso em ir ver a atriz Ceronha Pontes "incorporando" Camille Claudel, no Teatro Eva Herz, do RioMar. Sei do que estou falando: ela só atua abrindo a porta do corpo para receber a personagem, daí o verbo incorporar em substituição ao interpretar, troca, aliás, que só é possível no caso de atrizes com "a" maiúsculo. Num fim de semana, tem isso, noutro, tem aquilo e vão surgindo os motivos e as desculpas para não ir ver a criatura do Sertão dos Inhamuns (Ceará) "manifestada" em mais um palco. 

O primeiro foi o de Essa febre que não passa e desde então eu só penso que, uma vez decidindo estar na plateia, corro o mesmo risco medonho de ficar impressionada, um bocado mexida com as falas e a movimentação em cena, tudo cuidadosamente trabalhado para desmantelar mesmo quem chega achando que vai sair impune. É porque ela dá alma quando está ali em cima e, geralmente, pessoas que se dedicam a entregar o que de melhor possuem querem o que de melhor tiver quem recebeu. Neste caso, apenas aplausos, que se ouvem não porque ela quer, mas porque merece. Ao final, são tantos que a moça de Tamboril sorri como quem só tem as mãos para enfrentar feras e assim mesmo consegue dar cabo de uma todo santo dia. Mata com talento.

Então vejo que me agarrei a desculpas e justificativas falsas para não ter ido, até agora, vê-la na pele de Camille Claudel. É medo mesmo (e olhe que eu nem sou "frouxa"). Medo de passar os próximos dias pensando mais na vida do que de costume, refletindo sobre coisas que nem sempre a insustentável "dureza" do ser segura.

Vou porque não quero mais viver em dívida com a boa arte do que já vivo, mas sei que depois corro o risco de gostar ainda mais de teatro. É o preço - e como é bom pagá-lo.

Salve, Ceronha Pontes.



quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Olhos


À revelia de minha severa autocrítica, compartilho. Porque foi um dia de conhecer pessoas incríveis com quem adorei estar e trabalhar.
Ao Amandio Cardoso e à Agência Circo, ao Martin Palacios e toda a equipe, a Tatiana Valença (making off), aos que fazem o IOR, ao Marcos Castro e sua Casa de Papel, ao meu talentoso e querido colega Alexandre Sampaio e ao diretor Alexandre Sorriso, deixo aqui meu abraço feliz. Foi massa.

Ceronha

Making off seguido dos filmes prontinhos:


Pra quem não tenha paciência de seguir o making off todo, basta clicar AQUI para ver só o comercial.


sexta-feira, 15 de novembro de 2013

"Depois de beber o mar"


Minha sobrinha de 08 anos diz com toda a segurança que me conhece como à palma da sua mão. Nunca duvidei. Hoje me mandou esta ao ouvir minha voz grave e insone ao telefone:

- Titia, a senhora ainda tá com aquela peça, né?
(Referia-se a Camille Claudel.)
- Sim, estou.
- Ai, que já estou vendo o tamanho das suas olheiras.
- Como assim?
- Porque é assim, né, Tia? A senhora quando tá numa peça, fica cheia de olheiras.

Dancemos então, para domar o medo do desafio que esta extraordinária escultora representa.


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Camille em mim


Pessoas queridas, é óbvio ululante que fiquei envaidecida com as palavras do jornalista Bruno Albertim, a respeito de minha Camille Claudel. Sou humana, afinal. E saudável. Mas acima de tudo, a crítica de Albertim me afeta por tanto que me acrescenta em responsabilidade, renovando meu compromisso, ampliando meu desafio.
Artaud lembrava qualquer coisa parecida com isso: "o teatro acontece no exato instante em que a vida acontece". Pois é. Haverá sempre um grande mistério instalado no palco, na troca, na experiência diária.
Feliz, muito feliz, com uma avaliação tão positiva a respeito de um trabalho que uma equipe grande, entre cearenses e pernambucanos, se dedica a realizar. Mas é fato que, concordando inevitavelmente com Artaud, devo lhes prevenir que o espetáculo que Bruno assistiu não existe mais.
Tem uns versos de uma canção do Guinga e do Aldir Blanc que canto sempre que coisas muito especiais acontecem, que é não perder o prumo (é um risco, né?): "viver é afinar o instrumento/ de dentro pra fora/ de fora pra dentro/ a toda hora/ a todo momento/ lari lará..."
Seguem as palavras gentis e tão queridas de Bruno Albertim, e também as nossas boas vindas a todos vocês lá no Teatro Eva Herz. Por aqui seguimos com a certeza de que o milagre atenderá sempre pelo nome de TRABALHO. Meu dever.
Obrigada, Bruno. 


Ceronha

LEIAM!!!
http://jconline.ne10.uol.com.br/canal/cultura/noticia/2013/11/11/a-reencarnacao-de-camille-104974.php


Chamadinha carinhosa


A peça estreou na sexta passada e seguimos até 08 de dezembro, aniversário de Mademoiselle Claudel.
Mais informações no post anterior, e nos que virão.
Esperamos por vocês. Beijos nossos.

Link para a nossa  breve e nervosa entrevista do Blog Social 1. Obrigada, Mariana Lins.

http://tvuol.uol.com.br/assistir.htm?video=blog-social-1-entrevista-ceronha-pontes-0402CC1A3268D0B94326&fb_action_types=og.recommends&fb_source=other_multiline

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

INEVITÁVEL


Ela clamava: "exijo em altos brados a minha liberdade". Como eu ficaria indiferente?
Hoje às 20h lá no Eva Herz,  reestreia  “minha” CAMILLE CLAUDEL.
Over dose de valeriana para um mínimo de sono produzido esta noite. O nervosismo configurado numa rouquidão perigosa e um vazio enorme, como se qualquer coisa que em algum momento supus que pudesse oferecer tivesse desaparecido.
Neste momento Mademoiselle Claudel é um oceano e eu morro de medo d'água. Sei nadar,é verdade, mas se a água for muita estanco, apavorada. Algo assim, irracional, e sou de repente incapaz de me salvar. Miúda. Um quase nada: eu e meu teatrinho.
Devo entender que A VIDA É MAIS. A de Claudel, a minha a sua...
No sucesso ou no fracasso, a vida será sempre mais.
Comecemos o dia por deixar entrar o sol. Canta, Paradis, e me acalma.

Ceronha Pontes

P.S.:Sextas e sábados às 20h e domingos às 19h. Lá no Shopping RioMar, Recife-Pe.



terça-feira, 5 de novembro de 2013

Febril


Fim de mais um ensaio. Antepenúltimo antes da estreia. Desta busca incessante, carregada de justificáveis inseguranças, a única certeza que tenho é a de que, por estranho que pareça aos outros, ATOR é um ser inteiramente comprometido com a VERDADE.

Ceronha Pontes


de Camille Claudel



domingo, 3 de novembro de 2013

NO RECIFE



Foto- Márcio Resende
Arte- Ihasmin Oliveira